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Title: A bruxa e o capitão

Writer: Leonardo Sciascia

Translator: Mario Fondelli

Dados sobre a tradução

  • Classification: Romance ou novela; Tradução
  • Publication year: 1989
  • Publisher: Rocco, Rio de Janeiro, RJ
  • Languages: Português
  • Medium: Impresso
  • Edition: 1
  • ISBN: 8532503624
  • Number of pages: 72
  • Dimension: 14x21 cm

Dados do(s) original(ais)

  • Original title: La strega e il capitano
  • Complete translation of the work(s)
  • Language(s) of the translated work: Italiano

Fierce

A bruxa e o capitão, de Leonardo Sciascia

Por Jéssica Helena Trombini

novembro/2025


           

⠀⠀⠀La strega e il capitano é uma obra de Leonardo Sciascia (1921-1989) publicada pela Bompiani em 1986. Sua tradução para o português brasileiro foi feita por Mario Fondelli (1924-2017) sob o título A bruxa e o capitão e lançada em 1989 pela Editora Rocco. Desde 1981 já circulavam traduções de obras do autor no Brasil. Mario Fondelli já havia traduzido A trama, em 1988, também publicado pela Rocco, e posteriormente traduziria outros três títulos de Sciascia.

⠀⠀⠀Antes de falar do conteúdo de A bruxa e o capitão, é necessário falar sobre o gênero e o estilo das obras de Sciascia, que não são fáceis de definir. “Misto de reportagem, novela e ensaio, a literatura de Sciascia, inimitável no estilo, distingue-se mesmo é pela preocupação obsessiva de chegar ao núcleo da realidade, mediante a destruição progressiva das camadas que o envolvem. Por isso, o que está atrás de cada um de seus enredos são instituições” (Pontes, 1992, p. 10). Embora essa definição seja atribuída a Majorana desapareceu, de 1991, acreditamos que possa se aplicar também a A bruxa e o capitão, já que a professora Mariarosaria Fabris (1990) diz que, desde suas primeiras obras, Sciascia sempre oscilou entre o ensaio e a ficção e que neste conto o registro ensaístico fica mais evidente (notemos o uso da palavra “conto” para definir a obra). Além disso, “[a]pesar da alcunha ‘romance’ ser mais comum para descrever sua produção da época, nota-se que [em A bruxa e o capitão] prevalece uma característica mais próxima da não-ficção, permeada de comentários opinativos do próprio autor.” (Trombini; Malacoski, 2024, p. 311).

⠀⠀⠀A partir dessa definição complexa, A bruxa e o capitão revisita os autos do processo de condenação por bruxaria de Caterina Medici di Brono, em Milão (desde a acusação e interrogatório em dezembro de 1616 até a execução em março de 1617), acompanhando a movimentação dos homens que a condenaram. Caterina é acusada de ter usado feitiçaria para conquistar seu patrão, o senador Luigi Melzi, tendo-o levado a sentir fortes dores abdominais por meses – doença que deixava intrigados os médicos que o atendiam.

⠀⠀⠀A acusação foi feita pelo Capitão Vacallo, hóspede na casa do senador que teria reconhecido Caterina por haver trabalhado em sua casa anos antes. Vacallo afirma que Caterina era uma bruxa conhecida e também o teria enfeitiçado, porém, em auxílio a outra criada de sua casa, coincidentemente também de nome Caterina (que Sciascia denomina de Caterinetta para tirar a ambiguidade). Caterinetta havia se envolvido com Vacallo e queria fazê-lo se apaixonar e tomá-la como esposa, o que, no contexto do século XVII, era uma desonra, como nos lembra Sciascia. Caterina Medici di Brono chega a se confessar como bruxa e frequentadora do “barrilete” (“il barilotto”), pois acreditava nessas práticas, e como amante de um demônio que teria assumido o rosto do senador. Sciascia reconhece que Caterina pode ter confessado tudo isso em razão das sessões de tortura a que foi submetida. A obra foi produzida no contexto de uma série de ensaios críticos à pena de morte, que poderia condenar pessoas inocentes.

⠀⠀⠀Por meio de comentários ácidos e crítica fervorosa às crenças da época e à prática da condenação à fogueira, Sciascia conta esse caso do ponto de vista dos homens da lei, autoridades e médicos, que fizeram o relato e participaram ativamente da condenação. Na opinião de Fabris (1990), esse é um ponto negativo da obra, e que o conto teria sido mais interessante se fosse escrito do ponto de vista de Caterina e não a partir das esferas de poder, pois os devaneios eróticos dela eram o reflexo dos desejos dos juízes, que a condenam exatamente por isso. A importância do capitão Vacallo é tanta que dá título ao livro, mostrando sua influência e poder ao decidir o destino da mulher. Por outro lado, “se o autor tem compaixão ou apreço pela figura de Caterina, isso não transparece a ponto de ser notável como seu desprezo pelo senador, pelo capitão e por outros que participaram de sua condenação.” (Trombini; Malacoski, 2024, p. 312).

⠀⠀⠀A capa da edição brasileira leva a mesma ilustração da edição italiana: um detalhe do afresco Dannati all'Inferno, do pintor renascentista Luca Signorelli (1450-1523), elaborado entre 1500 e 1502 na Capela de San Brizio, um anexo à Catedral de Orvieto. Trata-se de uma série de imagens apocalípticas, em referência aos Últimos Dias, que impressionam pelas representações do corpo humano nu. No recorte escolhido para a ilustração da capa, um demônio carrega uma mulher nas costas. Em sua resenha, a professora Fabris também destaca a arte da capa, que diz compensar o leitor com o que o conto de Sciascia não traz.

⠀⠀⠀Quanto à recepção da obra em geral de Sciascia no Brasil, Avezzù (2024), aponta as obras mais analisadas, seja em âmbito acadêmico ou na imprensa, e A bruxa e o capitão não figura entre elas. A sua dissertação de mestrado aponta que o autor foi reconhecido como pioneiro em denunciar injustiças do crime organizado e de instituições: “A ‘investigação’ feita demonstra que Sciascia foi considerado pela imprensa brasileira como um político que concentrou suas energias no âmbito literário para criticar e denunciar elementos imorais que rodeavam o mundo não só da máfia, mas também do fascismo e da Igreja.” (Avezzù, 2024, p. 37).


Referências

AVEZZÙ, Marika. Investigando Leonardo Sciascia: uma análise sobre o autor siciliano no Brasil. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, 2024. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/263888?show=full Acesso em: novembro de 2025.

FABRIS, Mariarosaria. Resenha de A bruxa e o capitão. In: O Estado de S. Paulo, p. 10, ano VII, número 529, 22 de setembro de 1990. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=098116&Pesq=sciascia&id=2619705165827&pagfis=331 Acesso em: novembro de 2025.

PONTES, Mario. Busca insaciável. In: Jornal do Brasil. Idéias/LIVROS, pp 10-11. Edição 310. 16 de fevereiro de 1992. Rio de Janeiro. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_11&pesq=leonardo%20sciascia&hf=memoria.bn.gov.br&pagfis=34330. Acesso em: novembro de 2025.

TROMBINI, Jéssica Helena; MALACOSKI, Merlim Miriane. A pobre infeliz desafortunada Caterina Medici di Brono: da condenação por bruxaria às representações na Literatura Italiana. In: Anais I JEHISLIT, Vol. II, pp. 304-317. Belo Horizonte: PUC Minas, 2024. Disponível em: https://www.academia.edu/125891913/Anais_da_I_Jornada_de_Estudos_em_História_e_Literatura_Vol_2. Acesso em: novembro de 2025.


Reference

SCIASCIA, Leonardo. A bruxa e o capitão.Translation from Mario Fondelli. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1989.


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