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Title: Cenas de vida siciliana

Writer: Giovanni Verga

Translators: Mariarosaria Fabris, Lucia Guidicini, Loredana de Stauber Caprara, Roberta Barni, Darly Nicolanna Scornaienchi, Silvia Salvi, Sérgio Rodrigues, Celia Regina Cavalheiro, Elvira Rina Malerbi Ricci

Information about the work

  • Classification: Contos; Tradução; Romance ou novela
  • Format of work: Anthology
  • Publication year: 2001
  • Publisher: Berlendis e Vertecchia, São Paulo, SP
  • Languages: Português
  • Original title: Vita dei campi
  • Original title: Novelle rusticane
  • Original title: Vagabondaggio
  • Complete translation of the work(s)
  • Language(s) of the translated work: Italiano
  • Medium: Impresso
  • Edition: 1
  • ISBN: 8586387274
  • Number of pages: 285
  • Dimension: 14x21 cm

Description

Sumário da obra:

Pão amargo (Pane nero); O padre (Il reverendo); Os bens (La roba). In:  Novelle rusticane;

A amante de Gramigna (L’amante del Gramigna). In: Vita dei campi.

(trad. Mariarosaria Fabris);

Nedda. Esboço siciliano (Nedda. Bozzetto siciliano). In: Nedda. Bozzetto siciliano.

(trad. Lucia Guidiccini);

Jeli. o pastor (Jeli, il pastore); Ruivo pêlo-ruim (Rosso malpelo). In: Vita dei campi.

(trad. Roberta Barni);

Guerra dos Santos (Guerra di santi). In: Vita dei campi.

(trad. Elvira Rina Malerbi Ricci);

O mistério (Il mistero). In:  Novelle rusticane.

(trad. Julia Marchetti Polinesio);

Assim é o rei (Cos’è il Re). In:  Novelle rusticane; Carne vendida (Carne venduta). In: Racconti e bozzetti-Tutte le novelle.

(trad. Celia Regina Cavalheiro);

Liberdade (Libertà). In: Novelle rusticane.

(trad. Loredana Strauber Caprara);

Nanni Volpe (Nanni Volpe). In: Vagabondaggio.

(trad. Silvia Salvi);

Os coléricos (Quelli del colèra); Andanças (Vagabondaggio). In: Vagabondaggio.

(trad. Sérgio Rodrigues);

Fantasia (Fantasticheria). In: Vita dei campi.

(trad. Darly Niccolanna Scornaienchi).

Fierce

Giovanni Verga em sua fase verista

 

Por Mariarosaria Fabris

julho/2025


⠀⠀⠀Natural de Catânia, cidade em que veio a falecer, Giovanni Verga (1840-1922) formou, junto com outros dois dos principais nomes do Verismo, Luigi Capuana e Federico De Roberto, a chamada “tríade de Catânia”.

⠀⠀⠀O Verismo – nome com que se designou o Naturalismo italiano –, embora derivado da corrente francesa, interpretou-a antes como regionalismo, caracterizando a segunda fecundíssima fase de Verga, durante a qual, do encontro com o mundo popular siciliano, nasceram suas principais obras, dentre as quais as coletâneas Vita dei Campi (1880), Novelle Rusticane (1883) e Vagabondaggio (1887).

⠀⠀⠀Uma seleta de algumas dessas novelas deu origem à edição de Cenas de Vida Siciliana (2001), que foi uma retomada de Contos Sicilianos (1983), mas em parte, uma vez que sofreu alterações em relação à coletânea anterior. Em sua nova roupagem, as novelas não foram mais apresentadas em ordem cronológica, mas agrupadas por temas:

– Retratos femininos: “Nedda”, “A Loba”, “A Amante de Gramigna”;

– Retratos masculinos: “Cavalleria Rusticana”, “Jeli, o Pastor”, “Ruivo Pelo-ruim”; 

– A igreja: “Guerra dos Santos”, “O Padre”, “O Mistério”;

– A política: “Assim é o Rei”, “Carne Vendida”, “Liberdade”;

– Antecipações e desdobramentos de I Malavoglia: “Fantasia”, “Pão Amargo”;

– A gestação de Mastro-Don Gesualdo: “Andanças”, “Os Bens”, “Nanni Volpe”, “Os coléricos”.

⠀⠀⠀A nova estrutura levou à exclusão de narrativas breves do projeto anterior – “O Comilão” (Vita dei Campi); “Don Licciu Papa”, “Malária”, “Os Órfãos” e “Os Fidalgos” (Novelle Rusticane); “Um Processo” (Vagabondaggio) –, e ao acréscimo de outras novelas: “Assim é o Rei” (Novelle Rusticane); “Andanças” e “Os Coléricos” (Vagabondaggio); “Carne Vendida” (a única extraída de Racconti e Bozzetti, 1880-1922). E levou, ainda, à colaboração de novos tradutores (Celia Regina Cavalheiro, Roberta Barni e Sergio Rodrigues) e à saída de tradutores do projeto anterior (Pedro Garcez Ghirardi e Maurice Cunio, este em virtude da exclusão dos textos que havia traduzido).

⠀⠀⠀Autora de contos e de obras infanto-juvenis, Celia Regina Cavalheiro, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Italiana, traduziu “Assim é o Rei” e “Carne Vendida”; aluno do último ano do Curso de Língua e Literatura Italiana e segundo classificado no “Concurso Leopardi Alla luna” (agosto de 1999), promovido por entidades italianas e pela Universidade de São Paulo, Sergio Rodrigues foi encarregado de traduzir “Andanças” e “Os Coléricos”. Como Pedro Garcez Ghirardi não autorizou uma nova publicação de suas traduções, Roberta Barni, assumiu a nova versão de “Jeli, o Pastor” e “Ruivo Pelo-Ruim”; embora já profissionalizada como tradutora, ela havia frequentado o Curso de Especialização em Tradução/Italiano (1993-1995) e cursado o Mestrado em Língua e Literatura Italiana (1995-1999).

⠀⠀⠀Quanto às demais novelas, foram mantidas as traduções da edição de 1983: as de Lucia Guidicini para “Nedda” e “A Loba”; as de Mariarosaria Fabris para “A amante de Gramigna”, “O Padre” e “Os Bens”; as de Loredana de Stauber Caprara para “Cavalleria Rusticana” e “Liberdade”; a de Rina Malerbi Ricci para “Guerra de Santos”; a de Julia Marchetti Polinesio, para “O Mistério”; as de Darly N. Scornaienchi para “Fantasia” e “Pão amargo” (que a editora, equivocadamente, atribuiu a Mariarosaria Fabris, recusando-se a corrigir o erro); a de Silvia Salvi para “Nanni Volpe”. Mais uma vez, o projeto de tradução envolveu o corpo docente e discentes da Área de Língua e Literatura Italiana.

Voltando à estrutura de Cenas de Vida Siciliana, ela vinha evidenciar como no laboratório da escrita verguiana, as tramas, ao serem retomadas, reelaboradas, aprimoradas, podiam constituir uma espécie de work in progress. Para Verga, as narrativas breves eram esboços, estudos preparatórios para os textos maiores; redigidas paralelamente, as novelas permitiam verificar como temas, personagens e técnicas narrativas foram aproveitados nos vários gêneros aos quais o autor se dedicou, inclusive o teatral. E, no caso de seu itinerário como escritor verista, ele está todo contido nas obras concebidas no mesmo período: as novelas e os dois romances dos anos 1880, considerados suas obras-primas: I Malavoglia (Os Malavoglia, 1881) e Mastro-Don Gesualdo (Dom Gesualdo, 1889).

⠀⠀⠀Conforme apontei em “Giovanni Verga: uma Lição de História”, introdução da coletânea, e retomei no texto “Cavalleria Rusticana” (divulgado pelo site “A terra é redonda”, em 4 de abril de 2022), por exemplo, a gestação de Os Malavoglia refletiu-se na elaboração de Vita dei Campi (e vice-versa) e Novelle Rusticane. O imobilismo social a que estão condenados o velho pescador e sua família em “Fantasticheria” (“Fantasia”, 1879, publicada em 1880 na primeira coletânea) espelha a mesma condição que aprisionará Padron ‘Ntoni e seu núcleo familiar, enquanto “Pane Nero” (“Pão Amargo”, 1882, anexada à segunda coletânea de 1883) pode ser considerada um desdobramento cínico de Os Malavoglia, com a degradação da figura do chefe de família e a afirmação de uma nova provedora, que reconstitui o lar desfeito graças a seu corpo oferecido como mercadoria de troca. O caso mais significativo para entender esse trânsito entre gêneros é “Cavalleria Rusticana” (1880), que integra Vita dei Campi: o início da novela deriva diretamente do episódio romanesco em que o jovem ‘Ntoni, ao voltar do serviço militar, namorica as garotas da aldeia, sendo, em certa medida, mais um desdobramento do romance de 1880.

⠀⠀⠀Cenas de Vida Siciliana (cujo título original, corrigido pela editora, era Cenas da Vida Siciliana, em bom português) foi o primeiro volume da coleção Letras Italianas, como atesta o número um impresso em sua lombada, e foi publicado em abril de 2001, pela Berlendis & Vertecchia de São Paulo. Estranhamente, no artigo “Berlendis & Vertecchia e as Letras Italianas”, publicado no n. 33 da Revista de Italianística (out. 2017), ele aparece como a sexta publicação da coleção, precedido de dois volumes de Luigi Pirandello, Dona Mimma (Novelas para um Ano) e O Velho Deus (Novelas para um Ano) –, que teriam sido lançados no ano 2000, quando, na verdade, foram editados em 2002 e 2001, respectivamente – e de Uma Questão Pessoal, de Beppe Fenoglio, O Mar Cor de Vinho, de Leonardo Sciascia, e Argo e seu Dono, de Italo Svevo, lançados em 2001 (menos o de Sciascia, que é de 2002), mas depois da coletânea verguiana. Ou seja, uma datação tão imprecisa como algumas outras informações que Leila Marangon reproduziu – provavelmente fornecidas pela própria editora –, sem realizar uma pesquisa mais aprofundada (por exemplo, junto aos tradutores e/ou prefaciadores), o que acabou resultando numa espécie de artigo chapa-branca.

⠀⠀⠀No ano 2000, fui chamada pela Berlendis e Vertecchia para uma troca de ideias sobre a criação de uma coleção de Letras Italianas, a qual resultou num projeto que tomava como ponto de partida a última redação de I Promessi Sposi (Os Noivos, 1840-1842), de Alessandro Manzoni, por ser uma pedra miliar da literatura peninsular, com especial atenção a uma língua unitária e de pouco anterior à unificação do país. Elaborei uma lista de obras e de prováveis tradutores e prefaciadores, pensando também em traduções apresentadas como dissertações de Mestrado, que nem sempre encontravam um editor disposto a publicá-las, como Uma Questão Pessoal, de Beppe Fenoglio, traduzida e prefaciada por Maria do Rosario da Costa Aguiar Toschi; Foi Assim, de Natalia Ginzburg, traduzida por Edson Roberto Bogas Garcia; Érica e seus Irmãos, de Elio Vittorini, traduzida e apresentada por Liliana Laganá, todas lançadas em 2001. Como havia certa urgência, recuperar as traduções sobre Verga e aproveitar as das obras de Fenoglio, Ginzburg e Vittorini, que já haviam sido submetidas ao crivo de bancas examinadoras, pareceu-me uma maneira de ter mais tempo para pensar em novas publicações.

⠀⠀⠀Infelizmente, com a deterioração do disquete que o arquivava, perdi o projeto e nem sei se a editora ainda teria uma cópia. Em todo caso, ele foi alterado por Donatella Berlendis, porque divergimos sobre alguns aspectos, dentre os quais o mapa e a denominação da região de origem de cada escritor, pois, a meu ver, se a coleção seria dedicada a uma literatura nacional, a regionalização não fazia muito sentido. Ademais, como classificar autores que nasceram numa região, mas atuaram também em outras, como era o caso do bolonhês Pier Paolo Pasolini e sua ligação com o Friul e Roma, e de Fernanda Pivano, natural de Gênova, de formação piemontesa e que viveu entre Milão e Roma? Mas, fui voto vencido.

⠀⠀⠀O projeto final (provavelmente não o meu na íntegra), que nunca vi e no qual tampouco meu nome deve ter sido mencionado, foi premiado tanto na Itália como no Brasil: “Melhor Projeto Editorial de 2001”, da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte); “Premio per l’Attività Complessiva 2002”, do Ministero per i Beni e le Attività Culturali a Traduttori e Editori Italiani e Stranieri. As relações muito difíceis com a editora me levaram a desistir da organização da coletânea (função não reconhecida), sendo substituída por Liliana Laganá, sobre cuja atuação também não há informações.


Referências

VERGA, Giovanni. Cenas de Vida Siciliana. Trad. Lucia Guidicini; Mariarosaria Fabris; Loredana de Stauber Caprara; Roberta Barni; Rina Malerbi Ricci; Julia Marchetti Polinesio; Celia Regina Cavalheiro; Darly N. Scornaienchi; Sergio Rodrigues; Silvia Salvi. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2001.


MARANGON, Leila. “Berlendis & Vertecchia e as Letras Italianas”. São Paulo, Revista de Italianística, n. 33, out. 2017, p. 50-60. Disponível em: <https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.v0i33p50-60>.



Reference

VERGA, Giovanni. Cenas de vida siciliana. Translation from Mariarosaria Fabris et al. 1. ed. São Paulo, SP: Berlendis e Vertecchia, 2001.


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