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Título: A devolvida

Escritor(a): Donatella Di Pietrantonio

Tradutor(a): Mario Bresighello

Paratexto(s) da Obra

Informações sobre a obra

  • Classificação: Tradução; Romance ou novela
  • Ano de publicação: 2019
  • Editora: Faro Editorial, Barueri, SP
  • Idiomas: Português
  • Título original: L'arminuta
  • Tradução completa da(s) obra(s)
  • Idioma(s) da obra traduzida: Italiano
  • Meio: Impresso
  • Edição: 1
  • ISBN: 9788595810891
  • Número de páginas: 158
  • Dimensão: 15x23 cm

Verbete

A devolvida - Donatella Di Pietrantonio

Por Anna Palma (UFMG)

Novembro/2024


⠀⠀⠀Publicado pela Faro Editorial, de São Paulo, em 2019, A Devolvida é a tradução ao português brasileiro do romance de Donatella Di Pietrantonio intitulado L’Arminuta (2017, Einaudi), realizada por Mario Bresighello. O livro foi lançado no mesmo ano em algumas universidades no Brasil com a presença da escritora italiana, dentre elas, na UFMG, durante o XVIII Congresso da Associação Brasileira de Professores de Italiano (ABPI), em Belo Horizonte, realizado entre 22 e 25 de outubro de 2019. Nessa ocasião, lembro que a tradução teve bastante sucesso entre os estudantes da Faculdade de Letras, especialmente dos cursos de Italiano.


⠀⠀⠀Ganhador do prêmio literário Campiello, L’Arminuta, apenas um ano depois de sua publicação, já contava com 170.000 cópias vendidas, 14 traduções em andamento, projetos para uma peça teatral e uma versão para o cinema (FUSCO, 2018), finalizada em 2021. No ano de 2024, Di Pietrantonio foi a vencedora de mais dois prêmios literários: o “Premio Strega” e o “Premio Strega Giovani”, com seu último romance intitulado L’età fragile.


⠀⠀⠀Na quarta capa do livro brasileiro, já em 2019, a obra que consagrou a autora nascida em 1962 em Arsita, um vilarejo de montanha no interior da província de Teramo (Abruzzo) como uma das maiores escritoras da literatura italiana do século XXI, é assim apresentada: “Considerado um dos grandes romances da Itália, onde vendeu mais de 250 mil exemplares, com direitos negociados para mais de 25 países, e adaptações no teatro e no cinema, a autora Donatella Di Pietrantonio traz uma história sensível e emocionante”.


⠀⠀⠀A comparação das capas das traduções e seus originais pode ser um recurso interessante, especialmente quando se trata de versões contemporâneas entre si, para entender as normas editoriais que norteiam cada cultura, assim como a compreensão, entre os editores, de quais trechos ou pequenos textos podem alcançar as funções atrativa e comunicativa necessárias para levar os leitores e as leitoras a adquirir aquele livro.


⠀⠀⠀No caso de L’Arminuta - o texto original -, na quarta capa estão presentes citações diretas de textos críticos sobre a obra e a escrita: o primeiro, maior, de Michela Murgia, e o segundo de Matteo Nucci. Antes dessas passagens, poucas linhas e bem destacadas, em caracteres grandes e vermelhos, são utilizadas para chamar a atenção do(a) leitor(a): “Uma estória extrema na qual a maternidade, o amor e o abandono tomam forma na vida de uma moça de treze anos, tocando cordas tão profundas, originárias, que parecem nos chamar pelo nome. Um livro que deu a volta ao mundo” (grifos meus, tradução minha). Apesar dos sinais claros de que se trata de uma edição posterior à original - a que está em minhas mãos é, de fato, de 2019, do mesmo ano da edição da tradução – continua válida a comparação aqui proposta. Continuando a descrição da mesma capa, bem no final, em caracteres menores, encontra-se uma biobibliografia de seis linhas de apresentação da autora.


⠀⠀⠀A Devolvida – a tradução para o português brasileiro – por sua vez utiliza as duas orelhas do livro, não presentes na edição italiana acima descrita, para colocar: na primeira, uma citação direta da tradução do romance e, em seguida, um trecho de uma resenha extraída do jornal italiano Il Corriere della Sera; na segunda orelha, uma curta apresentação da escritora. A quarta capa, entretanto, além do trecho acima citado, colocado em destaque pelo fundo preto sobre a capa vermelha, apresenta, no começo, em caracteres amarelos e grandes, a seguinte frase chamativa, e um pouco duvidosa para quem conhece o romance: “Entregue a outra família pela segunda vez, ela não sabe mais qual parte da sua vida é real”. O restante do espaço é dedicado a um resumo da história da Devolvida, uma maneira para introduzir à narração da protagonista cujo nome, até o final do romance, nunca será revelado, permanecendo apenas o apelido dado a ela pelos colegas de escola.


⠀⠀⠀A obra de Donatella Di Pietrantonio já se tornou objeto de estudos literários em vários países, e a maioria deles destaca as temáticas mais presentes e a maneira com as quais tomam forma na sua escrita peculiar; entre elas, as relações entre mãe e filha e entre irmãs, descritas, pelas narradoras - sempre mulheres - que são às vezes filhas e outras mães, sem filtros ditados pelas convenções sociais, constituindo quase um resgate de um testemunho pelas suas próprias memórias. Característica é também a presença da região de Abruzzo, de maneira não sempre explicitada que, com suas montanhas e seu mar, dá vida a uma geografia dos lugares que molda as pessoas/personagens, suas existências e suas lembranças, (in)conscientes, de uma cultura ancestral sempre menos presente nas gerações atuais, assim como molda a voz/lembrança da narradora.


⠀⠀⠀Nas suas entrevistas, Di Pietrantonio já declarou que para ela o italiano é como se fosse uma língua estrangeira, uma segunda língua em termos mais exatos, sendo que o dialeto é sua língua materna. Em L’Arminuta, as expressões dialetais “italianizadas” estão presentes nas falas das personagens da sua família originária à qual a protagonista foi “devolvida”, mostrando que a autora não quer apagar totalmente seu dialeto especialmente para marcar com a “língua diferente” as diferenças sociais e de educação escolar que existem entre l’Arminuta e sua família de origem, talvez a causa maior da distância entre eles. Entretanto, qualquer marca da oralidade foi apagada em A Devolvida, assim como algumas escolhas estilísticas da autora, talvez na tentativa de facilitar a compreensão dos leitores brasileiros a partir de escolhas do tradutor que podem ter sido até mesmo inconscientes. Antoine Berman (2007) as chamava de “tendências deformadoras”, e entre as mais presentes na tradução de Bresighello podemos citar: a “racionalização”, a “clarificação” e o “enobrecimento”, reconhecíveis apenas a quem se dispõe a realizar um trabalho de análise da tradução.


⠀⠀⠀Deixamos a descrição da capa para a parte final deste texto. Nas duas versões está presente a imagem do rosto de uma jovem mulher, com tons escuros no livro italiano e levemente mais claros no brasileiro. Na capa da tradução se encontram alguns acréscimos editoriais, como a informação “bestseller internacional” e, depois do título, a frase “ela falava uma outra língua e não pertencia a nenhum lugar… era sempre uma hóspede”. Frase que chama a refletir sobre a ligação tão forte que existe entre língua e lugar, e sobre a relação/diferença entre ser hóspede ou estar na sua própria casa, em seu próprio lugar. E que, ao mesmo tempo, pode ser lida como uma síntese dos pensamentos norteadores do fazer da tradução literária, sintetizados no título do livro de Berman mais conhecido aqui no Brasil no âmbito dos Estudos da Tradução: “A tradução e a Letra, ou o albergue do longínquo”.



Referências


BERMAN, Antoine. A Tradução e a Letra, ou, o Albergue do longínquo [1985]. Tradução de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. Rio de janeiro: 7Letras/PGET, 2007.

DI PIENTRANTONIO, Donatella. L’Arminuta. 2. ed. Torino: Einaudi, 2019.

DI PIENTRANTONIO, Donatella.. A Devolvida. Tradução de Mario Bresighello. São Paulo: Faro Editorial, 2019.

FUSCO, Federica. L’Arminuta, un anno dopo Donatella Di Pietrantonio: “Un film, una piece teatrale. E un seguito”. In: Corriere della Sera (on-line) de 13 de fevereiro de 2018. Disponível em: https://27esimaora.corriere.it/18_febbraio_13/donatella-pietrantonio-un-anno-dopo-l-arminuta-avra-seguito-c2e8b256-10ab-11e8-ae74-6fc70a32f18b.shtml. Avesso em: 02/11/2024.


Referência

PIETRANTONIO, Donatella Di. A devolvida. Tradução de Mario Bresighello. 1. ed. Barueri, SP: Faro Editorial, 2019.


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